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Recalques e bloqueios: por que o que não dizemos nos afeta tanto?




Recalques e bloqueios: por que o que não dizemos nos afeta tanto?

Quantas vezes sentimos um peso, uma angústia ou um vazio que parecem não ter nome? E por que, tantas vezes, preferimos o silêncio ao invés de falar sobre essas dores? No silêncio, muitas vezes, estão escondidos recalques e bloqueios que alimentamos sem perceber — conteúdos que o inconsciente guarda porque não encontramos espaço seguro para expressá-los.


O que não é dito, longe de desaparecer, fica pulsando ali, como uma ferida não cicatrizada. Essa dor não tratada não só nos corrói internamente — sobrecarregando corpo e mente — como impacta quem convive conosco. O silêncio se transforma, então, num silêncio compartilhado, uma ausência de escuta que aprofunda o sofrimento coletivo.


Na clínica psicanalítica, entendemos que o recalque é um mecanismo que mantém afastadas da consciência emoções e lembranças dolorosas, mas que continuam ativas de modo invisível. Esses conteúdos ocultos podem gerar sintomas variados: ansiedade, irritabilidade, tristeza, dificuldades em relacionar-se, ou aquela sensação constante de “estar preso”.


A psicanálise oferece uma via para trazer esses conteúdos para a luz. O espaço seguro do setting acolhe o que foi silenciado e permite que o sujeito se escute sem julgamentos. Esse processo não é simples ou imediato. O silêncio — muitas vezes visto como resistência — na verdade pode ser o momento em que a alma se prepara para emergir, como um terreno fértil esperando a semente.


O não dito, portanto, é uma linguagem que fala mesmo quando tentamos ignorá-la. Precisamos aprender a reconhecer esses sinais, desde pequenos sintomas até relações fragilizadas, para que possamos buscar ajuda e transformar o sofrimento em reencontro.


Para quem vive essa invisibilidade emocional, o convite é para dar um passo — mesmo que pequeno — no encontro consigo mesmo. Buscar espaços de escuta, escrever sobre o que sente, experimentar a terapia ou conversar com alguém de confiança. O silêncio também é matéria viva; a transformação começa quando ousamos preenchê-lo com nossa verdade.


Passos rápidos para começar a extrair o que está calado:

  1. Observe seus sintomas físicos e emocionais, especialmente os que parecem não ter causa clara.
  2. Registre seus pensamentos e sentimentos diariamente, mesmo que pareçam confusos.
  3. Procure identificar momentos em que você evita falar sobre algo importante para você.
  4. Busque um espaço de escuta segura: terapia, grupos ou amigos confiáveis.
  5. Permita-se o tempo e o silêncio necessários para processar aquilo que virá à tona.


Checklist prático

  •  Reconhecer que o silêncio pode esconder sofrimento.
  •  Não se culpar por sentir bloqueios ou recalques.
  •  Procurar ajuda especializada quando sentir que o peso interno é grande.
  •  Praticar a autoescuta com exercícios simples (escrita, meditação).
  •  Valorizar pequenos avanços na expressão do que se sente. 

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