O eco que não silencia
"O homem é o que ele faz do que fizeram dele." – Jean-Paul Sartre
Há um som que não ouvimos, mas que ressoa. Um eco preso nas paredes invisíveis daquilo que chamamos de eu. Ele não grita, não implora, não bate à porta com punhos cerrados. Apenas está lá – como o vento que passa entre as folhas, sutil, mas insistente. Você já se perguntou de onde ele vem?
Caminho, às vezes, por ruas internas que não têm nome. Lugares onde o passado se dobra sobre si mesmo, como uma carta antiga que ninguém ousa abrir. Não é saudade, não é arrependimento. É algo mais bruto, mais vivo: a matéria-prima do que somos. O que nos fizeram, o que aceitamos carregar, o que escolhemos ignorar. Sartre tinha razão – somos escultores de um barro que não moldamos sozinhos. Mas o que fazemos com ele?
A psicanálise não promete silêncio. Ela não apaga o eco. Ela nos entrega um espelho torto, onde o reflexo não é lisonjeiro, mas é verdadeiro. E é nesse confronto – entre o que ressoa e o que queremos ouvir – que algo se transforma. Não é sobre consertar, é sobre escutar. Porque o eco, esse som que não silencia, não é um inimigo. É um mensageiro. Um guia cego que nos aponta o que ainda não vimos.
Diante dele, não há fuga. Há escolha: ignorá-lo e seguir com o rumor de fundo, ou parar, respirar e perguntar – o que ele tem a me dizer? Não há resposta fácil. Mas há um começo. E talvez seja isso que importa.
E você, já deu nome ao seu eco?
Guilherme O. Hübner
www.gohubner.com.br
Comentários
Postar um comentário
Obrigado por escrever.