A Chave que Não Abre Portas
"A liberdade não está em fazer o que se quer, mas em querer o que se faz." – Jean-Jacques Rousseau
Há objetos que carregamos sem perceber. Um peso que não vemos, mas sentimos – como uma chave antiga, guardada no bolso, que não se encaixa em nenhuma fechadura. Caminhamos com ela, dia após dia, na esperança de que, em algum momento, uma porta se revele. Mas e se a porta não existir? E se a chave, na verdade, for o próprio enigma?
Penso, às vezes, nas correntes que não são de ferro, mas de memória. Nos cadeados que forjamos com as mãos trêmulas do passado, trancando pedaços de nós mesmos em cômodos que não visitamos mais. A chave que carregamos não abre essas portas – ela as mantém fechadas. É um paradoxo cruel: aquilo que deveria nos libertar é o que nos prende.
A psicanálise não é uma serralheria que fabrica novas chaves. Ela é um espelho que nos convida a olhar para a chave que já temos. A questionar: por que a carrego? Que portas ela protege? Que portas ela impede de abrir? Não há promessas de liberdade absoluta, mas há um convite – o de transformar o peso em significado. De entender que, talvez, a verdadeira liberdade não esteja em abrir todas as portas, mas em aprender a caminhar sem o peso delas.
E você, já parou para olhar a chave que carrega?
Guilherme O. Hübner
www.gohubner.com.br
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